UNIDADE: O DOM DO ESPÍRITO
(1 Co 12:1-13)
Uma vez que havia divisão na igreja de Corinto, Paulo começou enfatizando a unidade da igreja. Ressaltou quatro vínculos maravilhosos da unidade espiritual.
Professamos o mesmo Senhor (vv. 1-3).
Paulo faz um contraste entre a experiência dos coríntios como idólatras não convertidos e sua experiência atual como cristãos. Haviam adorado ídolos mortos, mas agora pertenciam ao Deus vivo. Seus ídolos nunca se dirigiam a eles, mas Deus lhes falava por meio de seu Espírito e até por meio deles no dom de profecia. Quando estavam perdidos, eram controlados pelos demônios (1 Co 10:20) e guiados pelos caminhos errados (1 Co 12:2). Mas agora, o Espírito de Deus habitava dentro deles e os dirigia. É somente pelo Espírito que uma pessoa pode dizer com toda honestidade: "Jesus é o Senhor", Um escarnecedor que vive em pecado até pronuncia essas palavras, mas não se trata de uma confissão sincera. (Talvez Paulo esteja se referindo às coisas que haviam dito quando ainda se encontravam sob a influência de demônios antes de sua conversão.) É importante observar que, enquanto o Espírito Santo opera, os cristãos nunca perdem o domínio próprio (1 Co 14:32), pois é Jesus Cristo, o Senhor, que está no controle. Qualquer suposta "manifestação do Espírito" que priva a pessoa do domínio próprio não vem de Deus, pois "o fruto do Espírito é [...] domínio próprio" (GI 5:22, 23). Se Jesus Cristo é, verdadeiramente, o Senhor de nossa vida, então deve haver unidade na igreja. Divisão e dissensão no meio do povo de Deus só servem para enfraquecer o seu testemunho conjunto ao mundo perdido (Jo 17:20, 21).
Dependemos do mesmo Deus (vv. 46).
Encontramos aqui uma ênfase trinitária:
"o Espírito é o mesmo [...] o Senhor é o mesmo [...] o mesmo Deus". Como indivíduos, podemos ter diferentes dons, ministério e formas de trabalhar, mas "Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade" (Fp 2:13). O dom vem de Deus; a esfera em que administramos
o dom pertence a Deus, e a energia para usar o dom é concedida por Deus.
Então, por que glorificar seres humanos? Por que competir uns com os outros?
Ministramos ao mesmo corpo (w. 7-11).
Os dons são concedidos para o beneficio da igreja toda. Não são para o usufruto individuai, mas para uso corporativo. Os coríntios em especial precisavam ser lembrados disso, pois usavam os dons espirituais de maneira egoísta, para promover a si mesmos, não para edificar a igreja. Quando aceitamo nossos dons com humildade, podemos usá-los para promover harmonia e para ajudar
a igreja como um todo.
Os diversos dons são citados em 1 Coríntios 12:8-10 e 28 bem como em Efésios 4: 11 e Romanos 12:6-8: Quando combinamos essas listas, encontramos dezenove dons e cargos diferentes. Uma vez que a lista em Romanos não é idêntica à de 1 Coríntios, podemos supor que Paulo não estava tentando tratar exaustivamente do assunto em nenhuma dessas passagens. Apesar de os dons citados serem apropriados para o ministério da igreja, Deus não se restringe a essas listas. Pode dar outros dons como bem lhe aprouver.
Tratamos anteriormente dos apóstolos (1 Co 9:1-6).
Os profetas eram os porta-vozes de Deus no Novo Testamento, pessoas cujas mensagens vinham diretamente de Deus por meio do Espírito. Seu ministério era edificar, encorajar e consolar (1 Co 14:3). Seus ouvintes testavam essas mensagens, a fim de determinar se eram, de fato, provenientes de Deus (1 Co 14:29; 1 Ts 5:19-21). Efésios 2:20 deixa claro que os apóstolos e profetas trabalharam juntos para lançar os alicerces da Igreja, e podemos supor que deixaram de ser necessários, uma vez que esses fundamentos foram completados.
Os mestres instruíam os convertidos acerca das verdades doutrinárias da vida cristã. Ensinavam de acordo com a Palavra de Deus e com os preceitos pregados pelos apóstolos (tradição). Ao contrário dos profetas, não recebiam suas mensagens diretamente do Espírito, apesar de o Espírito ajudá-los em
seus ensinamentos. Tiago 3:1 indica que se trata de um chamado extremamente sério. O evangelista dedica-se a compartilhar as boas-novas da salvação com os perdidos. Todos os ministros devem atuar como evangelistas (2 Tm 4:5) e procurar ganhar almas, mas algumas pessoas receberam um chamado especial para evangelizar. Na Igreja primitiva, os milagres faziam parte das credenciais dos servos de Deus (Hb 2:1-4). Na verdade, milagres, curas e línguas pertencem a uma categoria que os teólogos chamam de "dons de sinais" e que se referem especificamente ao início da Igreja.
O Livro de Atos, bem como a história da Igreja, indicam que esses dons miraculosos saíram de cena com o passar do tempo. Os socorros e governos (1 Co 12:28) referem- se aos servos e dirigentes da igreja, pois sem liderança espiritual a igreja não pode prosperar. Os dons de ministrar (Rm 12:7) e de presidir pertencem a essa mesma categoria. Sou grato pelas pessoas que, nas três igrejas em que pastoreei, exerceram seus dons de socorros e de liderança. Há vários dons referentes à locução: línguas e interpretação de línguas (dos quais trataremos em mais detalhes adiante), a palavra de sabedoria e a palavra de conhecimento (a capacidade de compreender e de aplicar a verdade de Deus a uma determinada situação) e a exortação (encorajamento e, se necessário, repreensão). Contribuir e demonstrar misericórdia são relacionados a prover auxílio material aos necessitados e a sustentar os servos de Deus no ministério. O dom da fé é relacionado a crer em Deus quanto ao que ele deseja realizar no ministério da igreja, confiando que guiará e proverá. O discernimento de espíritos era importante na Igreja primitiva, uma vez que Satanás desejava falsificar a obra e a Palavra de Deus. Hoje, o Espírito usa especialmente a Palavra escrita para dar discernimento (1 lo 2:18-24; 4:1-6). Uma vez que não há profetas na Igreja de hoje, não precisamos nos preocupar com falsos profetas; no entanto, devemos ter cuidado com os falsos mestres (2 Pe 2:1).
Alguns estudiosos dividem os dons em categorias: dons de locução, de sinais e de serviço. No entanto, não devemos dedicar tanta atenção aos dons individuais a ponto de esquecer o motivo principal pelo qual Paulo os relacionou: para nos lembrar que eles nos unem em nossos ministérios a um só corpo. O Espírito Santo concede esses dons "como lhe apraz" (1 Co 12:11), não de acordo com a nossa vontade. Nenhum cristão deve se queixar de seus dons. Somos muitos membros de um só corpo e ministramos uns aos outros.
Experimentamos o mesmo batismo (Vv. 12, 13).
Infelizmente, a expressão "batismo do Espírito" perdeu o significado original do Novo Testamento. Deus nos falou por meio de palavras dadas pelo Espírito, e não devemos confundi-Ias (1 Co 2:12, 13). O batismo do Espírito ocorre na conversão, quando o Espírito entra no pecador que crê e lhe dá nova vida, fazendo de seu corpo o templo de Deus. Todos os cristãos experimentaram esse batismo definitivo (1 Co 12:13). As Escrituras não ordenam em parte alguma que devemos buscar esse batismo, pois já o experimentamos
e ele não precisa ser repetido. A "plenitude do Espírito" (Ef 5:18ss) é relacionada ao controle do Espírito sobre nossa vida. (Nas Escrituras, estar cheio significa "ser controlado" por algo.) A Bíblia ordena que sejamos preenchidos, o que é possível quando entregamos tudo a Cristo e lhe pedimos que nos conceda a plenitude do Espírito. Trata-se de uma experiência que ocorre repetidamente, pois precisamos sempre ser preenchidos novamente com poder espiritual, a fim de glorificarmos a Cristo. Ser batizados pelo Espírito significa que pertencemos ao corpo de Cristo. Ser preenchidos pelo Espírito significa que nosso corpo pertence a Cristo.
A evidência do batismo do Espírito na conversão é testemunha de que o Espírito está dentro de nós (Rm 8:14-16). Não é o "falar em línguas" que comprova esse batismo. Todos os cristãos da igreja de Corinto haviam recebido o batismo do Espírito, mas nem todos falavam em línguas (1 Co 12:30). As evidências da plenitude do Espírito são: poder para testemunhar (At 1:8), alegria e submissão (Ef 5:19ss), semelhança a Cristo (GI 5:22-26) e crescimento na compreensão da Palavra (Jo 16:12-15). Urna vez que recebemos o Espírito quando nos convertemos, somos todos membros do corpo de Cristo. Raça, posição social, riqueza ou mesmo sexo (GI 3:28) não são vantagens nem desvantagens quando estamos em comunhão e servimos ao Senhor.
*Extraído de:: Comentário Bíblico Expositivo.Vol.1; Central Gospel. Wiersbe, Warren W.pp. 795 a 797.