Estamos vivendo um clima de lembrança, um período de reflexões em torno do dia 31 de Outubro, por ocasião da Reforma Protestante. O evento histórico, que teve como seu principal nome Lutero, realmente precisa retornar ao início de tudo, rever onde tudo começou a dar errado, dentro da nossa própria concepção de Salvação, Fé, Vida com Deus e,pasmem, acerca da própria forma como enxergamos ao Cristo que [dizemos] ser nosso Salvador e Senhor. Não vou enumerar argumentos que comprovem a necessidade de um retorno às portas da Catedral de Wittenberg, e rever as 95 teses, antes, gostaria de propor outra reflexão não menos importante que a anterior,mas, aplicando o conceito da Reforma a nós mesmos, individualmente.
É fato que aquilo que é pregado atualmente por muitos não consta no genuíno Evangelho - isto é algo inegável! Mas, apesar de ser algo fruto das ideologias pastorais, não há como negar que os 'crentes' parecem buscar uma mensagem que se adeque a seus anseios. Já não se trata de ser moldado por uma verdade que o transformará, mas, dadas as diversas modalidades de 'evangelho' colocados à sua disposição, cabe a ele apenas escolher aquela que corresponde às suas expectativas. Na escolha (quero crer que seja uma escolha inconsciente...), são avaliados diversos fatores: se o conteúdo tem promessas de prosperidade, grau de comprometimento, crescimento e visibilidade, estrutura, conforto, distância, custo (ofertas, sacrifícios, campanhas, dízimos, trízimos,etc). Essa avaliação se dá no campo das generalidades, é uma análise geral daquilo que ele terá de dispor para servir na denominação escolhida, nesse ponto, a questão das ofertas - aqui apresentado como custo - parece que tem um papel não determinante na escolha. Ao que parece, o fiel está disposto a ofertar sem murmurar altas quantias desde que seu retorno seja garantido, sua voluntariedade em contribuir será mais intensa à medida que vivenciar mais milagres.
Essa geração de crentes não avalia somente os aspectos das generalidades,mas, tendo esta primeira análise, outras duas virão, estas sim terão mais peso em sua escolha. A questão seguinte é uma bem específica: o líder. Não parece que um indivíduo avaliará um pastor para decidir congregar ou não em determinado lugar,mas, é o que tem acontecido não poucas vezes. A figura do pastor, tida como uma liderança espiritual importante no nosso tempo, ora visto como aquele que tem o poder profético em suas mãos, de trazer,mediante a sua palavra, a existência do sobrenatural, ora visto simplesmente como um amigo de conversas informais, deve ter, necessariamente, algumas características: ser carismático, ter uma mensagem elaborada, saber ouvir, ter uma palavra doce, possuir o 'sim'. Todas estas exigências fazem parte do crente pós moderno para a sua figura de pastor ideal, haja vista ser este aquele que,para ele, terá 'poderes' sobre a sua vida. Então, tanto uma palavra impactante e com poderes terapêuticos quanto uma oração 'forte' são indispensáveis para nutrir este fiel, bem como ter sempre aquela famigerada promessa que garante ao seguidor um decreto de vitórias irrevogável, a qual nem mesmo Deus pode dizer não.
Por fim, após adquirir um pastor ideal, é preciso observar também quem anda pelo templo. Já não são aceitos cultos onde alguma coisa saia do normal, já não admite-se o sobrenatural nos cultos. A racionalidade deve ter lugar central nos cultos,isso todos sabemos,mas agora também a racionalidade também opera no Espírito Santo, segundo os nossos padrões 'teológicos', o Espírito atua ou não, dependendo daquilo que entendemos como certo ou errado, como conveniente ou inconveniente nos cultos. Bom, se o próprio Espírito Santo é regulado, nem preciso dizer que os congregados também serão objeto de análise! Mas com eles é menos rígido: somente uma boa olhada na cara dos 'irmãos' já dá para perceber se vai dar certo ou não. Outras coisas nessa terceira análise também são levadas em consideração, como por exemplo: renda média, hábitos, origens (é ex o quê?). Sobre estes três pontos, gostaria de expandi-los, vejamos:
- Renda Média: Alguém pode perguntar: "Mas como saber isto?", bom, a resposta é bem simples e clara e pode ser explicada da seguinte forma: Como se trata de uma análise, os detalhes são fundamentais; no inicio do culto,por exemplo, como a maioria chega à igreja? táxi, ônibus ou carro próprio? No decorrer do culto: Quais as marcas de roupas utilizadas (exclua aqueles que se apresentam no louvor, no púlpito, e os obreiros...)? e,ao final do culto: Aqueles que saíram de carro, qual é o ano/marca do automóvel? Após isto, o candidato a membro estará apto a saber a renda média daquela congregação;
- Hábitos: Quanto aos hábitos, não há muito que se falar, apenas leva-se em consideração situações comuns, como por exemplo, a educação dos membros, a recepção, a disciplina no culto, etc;
- Origens (É ex o quê?): Esse,é sem dúvida o pior, pois é uma visão sobre aqueles que formam aquela igreja. Por exemplo: Se a igreja é predominantemente formada por ex-católicos, você até pode não gostar do catolicismo,mas, aceita pois não há grandes diferenças principalmente neste modelo de protestantismo de hoje em dia, aliás, há quem não identifique variações entre um e outro. Por outro lado, se a igreja é formada por ex-traficantes, ou ex-travestis, ou quem sabe por alguém que seja ex-presidiário, nem pensar em congregar ali! Dizemos que esta é a pior modalidade de análise pois é aquela que põe em dúvida a eficiência do sangue de Jesus Cristo na regeneração do pecador.
Esse é,infelizmente, o retrato de muitos daqueles que afirmam ter uma fé pautada nos ensinos de Cristo. Pessoas voltadas para o seu próprio bem-estar, inclinados a viver um evangelho que em nada interfere em suas vidas, algo que não tenha um poder transformador, uma vez que não há intenção nenhuma em mudar de vida!
*Feliz Reforma!
Crédito(s)-Imagem: Tipografos.net